o escombro das máquinas
enforcado numa árvore
que sonha com ferrugem


MAR MORTO

2022

O Mar Morto nasce de uma incisão sobre a maré, do transplante de uma vaga, embalsamada em azul.

Placas de lixo, perfuradas a pregos, são presas no tecto do aquário, ancorando a queda de oitocentos metros de fio de pesca, emaranhados em repouso, como alforrecas murchas. Quinhentos estilhaços de vidro, de garrafas e montras partidas, penduram-se peça a peça, com fita-cola barata, à extremidade de cada linha. Ao escurecer, varrem-se os pedaços caídos, substituem-se os ossos em falta no organismo suspenso. Assim que inteiro, forra-se a sala com plástico translúcido, iluminado do chão por breves raios azuis.

A onda rebenta contra o muro do seu desenho. O corpo flutua em contraste com a tela branca, quem sabe sonhando fugir. Os vidros alcoólicos tornam-se negros, as lágrimas que restam reflectem os últimos brilhos marinhos. O petróleo alastra, engole matéria, consome a transparência da superfície. As gotículas cristalinas quase extintas pela massa predadora. Memórias tristes de água limpa.


MICRO GREENS

2020


ABSTRACTOR

2020


ARANDO

2020


ARADO

2020


DISTÂNCIA DE SEGURANÇA

2019


DESTERRO

2019